Exposição “Aparições” no Museu da Imagem e Som – Campinas – SP - 7 de maio de 2015
Fomos convidados pelo Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp) a participar de uma exposição-instalação disparada pelo tema “DESAPARECIMENTOS #cidades-limites#futuros-tangíveis#”. O convite para a exposição era a imagem de uma enxurrada:
Após uma longa seca, com as chuvas de março, o MIS-Campinas foi inundado de notícias. Uma verdadeira enxurrada de manchetes, opiniões, informações... invadiu o museu.... Depois que as notícias vazaram surgiu no primeiro andar do MIS "Aparições": uma cidade de papel (papel jornal, revista, papel tela do cinema, tela do computador...), inventada pelas diversas ocupações que artistas, coletivos e pesquisadores...
Respondendo ao chamado, o Núcleo de Leitura Fabulografias esteve, mais uma vez, presente, partilhando do sensível em 3 intervenções. O ambiente foi invadido por memórias ensurdecedoras. Uma das obras Velho Chico trouxe um rio agonizando pelo chão das ruas cruas, pisado por anônimos e observado por curiosos. Em seu lastro de dor, de súplica e sangue corre nomes des – feitos. O esquecimento, que torna invisível a morte das populações indígenas está registrado nas paredes concretas da grande cidade. Na marca de corpos contornados em fita, a morte dos povos ribeirinhos e indígenas e do próprio rio. Essas marcas de corpos “mortos” direcionavam os transeuntes a uma parede cheia de lambe-lambe. O vermelho vivo do sangue, os nomes das tribos invisíveis e esquecidas foram marcados na parede como aviso para a barbárie in-dizível embora rotineira. O sangue escorreu das paredes ao denunciar, silenciosamente, o massacre diário de uma população invisível
Dentro do MIS, outras duas exposições. Uma delas, fotos do Coletivo Invisível compunham uma mostra de postais produzidos por jovens. Na enchente que submergiu a cidade, um novo lugar aparece. O que nos mostra esta nova cidade? Tendo esta pergunta como disparadora foram realizadas oficinas com adolescentes, alunos do ensino regular de filosofia e história, internos na Fundação Casa (Unidades Andorinhas, Campinas e Maestro). Por meio de experimentações textuais, desenhos e fotografias, fragmentos desta nova cidade se fizeram. E em manipulações digitais, repetições e composições de postais estas cidades dobraram-se em outras e outras... O Coletivo invisível traça possíveis cruzamento entre uma prática de sala de aula e a produção artística coletiva, na busca de respostas: Que cidades este acontecimento criativo capta e inventa? Que ressonâncias fazem com estas jovens experiências de vida em reclusão?
O que você possui? – A pele, nada a mais.
Nela encontrei o meu destino, condenado.
Nela estou aprisionado.
Vê?
Angélica Brotto
As marcas ali deixadas pelo sofrimento, pelo cárcere e pela invisibilidade libertaram sentimentos. Inundaram a cidade de histórias de vida que nem sempre são contadas. São silenciadas com a dor. Da rendição ao poder, desde a reclusão até a falta de perspectiva nas ruas.
Guilherme Montenegro
Em uma das salas do andar térreo do MIS, criamos o espaço Escavações. As imagens criadas entre papel jornal, água, poemas, fotografias buscavam uma convulsão entre expressões silenciadas. Lascas, camadas que se (des)pregam, vestígios, aparecimentos demolindo superfícies por arranhões, raspagens nas paredes, chãos. arranhaduras, raspas que se criam por fragmentos de contos, nos/dos escombros de remontadas oralidades e significâncias, ressoando clamores guardados no corpo das palavras. Pequenos feixes de luz se dispunham na mesa para os convidados se aventurarem a desvendar a frieza por trás das imagens-pedras. As enchentes desfaziam o concreto, mas não de uma vez: apagavam os registros, corroíam como traça:
O rio que transbordara já baixou, mas a inundação deixou várias marcas. As imagens da cidade convidavam quem passava para um encontro. Com novas leituras, novas formas... As formas da cidade e o espaço para várias formas. As janelas foram quebradas, cobertas e novas luzes entraram. Tivemos ainda a surpresa na disposição dos elementos, com novas alternativas. Mas o banquete se refez e a fartura de palavras e novas leituras também.”
Guilherme Montenegro
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