Oficina-sarau no evento “Afetos Nascentes” - Museu da Imagem e Som de Campinas - novembro de 2014


por Angélica Brotto


O encontro envolveu artistas, pesquisadores, universitários e público, reunidos para uma criação audiovisual coletiva a partir do tema mudanças climáticas, seca, inundações e as adaptações. O evento foi organizado pela Sub-rede Divulgação Científica e Mudanças Climáticas da Rede CLIMA ligada ao Laboratório de Estudos Avançados em Divulgação Científica (Labjor – Unicamp).




O espaço do MIS foi tomado por cachoeiras de pano, simulações digitais de mar/água, exposição de sons e sentidos. Criamos um rio que desembocava na rua, cheio de poemas, mini-contos, livros e imagens produzidas e/ou selecionadas pelo Coletivo. Havia folhas também e cheiros. Esse rio nascia de uma cabaça, utensílio muito utilizado no armazenamento e transporte da água e símbolo da criação do mundo e das águas na cultura ioruba. Começamos a declamação dos poemas. E ali havia uma composição de sentidos: músicas, toques, leituras, e observações através dos rios, das imagens, das folhas, explorando imaginações que transbordam o tema.






A participação do Coletivo Fabulografias na exposição foi inundada de sensações e reconstruções. O espaço incorporou o devir do momento, expresso através do rio que comungou poesia, imagens, cheiros e música e envolveu as pessoas ali presentes num transe: a voz virou o instrumento, o instrumento poesia, a poesia imagem, a imagem cheiro. Veio então, o momento de ouvir. A tradição que emana da oralidade foi sentida nas palavras de Babalorisa Faseyi Dada, que narrou aos ouvidos atentos o valor sagrado da água. Água enquanto geradora de todas as vidas, si mesmo como parte de um todo. O clamor por respeito inundou os sentimentos, um respeito pela vida que abriga a si e ao outro.





Pelos muros da cidade, um encontro
Em frente ao MIS um encontro que reverberou. Uma intervenção do Coletivo Comunicadores Populares com criações de diversos artistas em homenagem a Cláudia Silva Ferreira assassinada no Morro da Congonha pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em março de 2014. 
Seu nome era Claúdia, e ela não foi arrastada pelas ruas, presa ao carro de policiais, acidentalmente. Ela foi assassinada, sua carne negra, é a carne mais barata do mercado. O racismo é velado, mas persiste, seleciona, marginaliza e destrói muitas vidas. Do lado de fora, um paredão gritava aos nossos olhos uma denúncia da discriminação e violência às quais os negros estão, cotidianamente, expostos na sociedade. Não seremos cúmplices, não esqueceremos... Seu nome era Claúdia.









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