por Rodolfo Fordiani
Uma creche numa escola municipal em Sorocaba inaugurou minha participação no Núcleo Fabulografias - ALB. Diferentemente das minhas outras participações em projetos, neste percebo-me aconchegado num espaço em que os olhos de quem trabalha/convive com você estão no horizonte e não acima das cabeças. O que seria uma apresentação de trabalho novo, logo se transformou, para mim, num espetáculo de criação, experimentação e/em imagem no qual todos os presentes participavam da construção. O público reunia funcionários dessa escola e alunos de pós-graduação de uma das integrantes do Coletivo Fabulografias.
Uma pluralidade de pessoas sem demarcações hierárquicas foram acolhidas com um café da manhã pelo diretor desta creche. Dividimos a turma em três grupos que se revezaram para que todos experimentassem as atividades das oficinas.
Em uma das atividades, as pessoas trabalharam com a imagem enquanto sombra, cor e forma - fotografando e observando esses elementos com seus olhos e dispositivos eletrônicos. Foram assim criando novas sensações a partir desses aspectos, que se encontram tão distantes da nossa mente (mesmo estando presentes o tempo todo).
Outra atividade reuniu ao redor de uma mesa uma exposição de imagens em vários tamanhos construídas em outras oficinas do Fabulografias, alguns instrumentos afrobrasileiros, muitos poemas, mini-contos e alguns livros. Perto dessa mesa organizamos uma exposição com os itens trazidos pelos convidados, que variavam de livros a pó de café. Nesse espaço houve tempo para observação e recepção - as pessoas tocavam, liam, analisavam. Algumas se encantavam com o colorido de uns instrumentos, outras se deslumbravam com as imagens e os escritos. Para outras, parecia algo fútil - muito estranho ou de compreensão distante de si.
Abrimos um momento para criação escrita, produzindo poemas e pequenos textos. Teve gente que resgatou música criada em outro momento de sua vida! Muitos versos sensíveis... E teve também quem perguntasse se aquilo ali não era coisa do diabo! Para finalizar, nos reunimos ao redor da mesa e expusemos nossas expressões mais verbais/corporais: lemos, falamos, cantamos, tocamos e escutamos.
No decorrer da oficina, formou-se um grupo de gente gingando capoeira (foi por pouco tempo, mas foi incrível essa expressão da África que ventava ali, que muito retrata a resistência de um povo que sempre teve sua cultura em processo de apagamento).
Ainda havia dois espaços conectados para que as pessoas circulassem. Num deles ocorria a criação com imagens, em que se exercitavam algumas formas de inventá-las com papel, tesoura, imagens, lã de aço e outras ferramentas. Lá foram produzidas muitas e ricas imagens/composições.
O outro ambiente recebia uma experimentação multimídia com a reprodução sonora e visual de um vídeo produzido pelo Coletivo; projetava também imagens de outras oficinas, cadenciadas com uma trilha sonora, “Me Gritaron Negra”, da cantora afro peruana Victoria Santa Cruz. Esta música é um relato sobre a vivência do racismo de/em diferentes formas/fases da vida. Uma ciranda dançou as intensidades deste encontro que foi encerrado por um almoço carinhosamente preparado pelas cozinheiras da escola.
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